sábado, 14 de julho de 2007

OS TRÊS PORQUINHOS

Certa vez havia uma porca que teve três porquinhos. Ela estava velha e não tinha como sustentar a ninhada, então mandou que partissem em busca da sorte.
O primeiro porquinho andou, andou até que encontrou um homem que carregava um feixe de palha, e disse a ele:

“Por favor, camponês, me dê um tanto dessa palha para que eu possa construir minha casinha.”

O camponês, que tinha bom, coração, assim o fez, entregando-lhe uma boa quantidade de palha. O porquinho não perdeu tempo e logo sua casa estava pronta.

Porém, também logo veio um lobo, que bateu à porta e falou:

“Porquinho, porquinho, deixe-me entrar.”

Ouvindo isso o porquinho respondeu:

“Não, não, pelos fios de minha barba, aqui você não vai entrar.”

O lobo sem se deixar abalar com a resposta, retrucou:

“Então vou soprar, e vou bufar, e vou sua casa arrebentar.”

E soprou, soprou, bufou, bufou, a casa foi pelos ares. O porquinho no entanto, era rápido, e saiu correndo para dentro da mata tão depressa que por mais que tentasse o lobo não conseguiu capturá-lo.

O segundo porquinho encontrou um homem com um feixe de tojo e disse:

“Por favor, meu bom homem, me dê um tanto desse tojo para que eu possa construir a minha casinha.”

O homem assim o fez e o porquinho, mais do que depressa, construiu a sua casinha.

Mas não tardou e o lobo apareceu e disse:

“Porquinho, porquinho, deixe-me entrar”.

“Não, não, pelos fios de minha barba, aqui você não vai entrar.”

“Então vou soprar, e vou bufar, e vou sua casa arrebentar.”

E soprou, soprou, bufou, bufou e a casa foi pelos ares, mas tal como seu irmão esse porquinho também era ágil, ou essa agilidade era apenas o instinto natural de sobrevivência? Não sei, o que sei é que ele correu feito um louco pra dentro da floresta e o lobo mais uma vez não pode encher a barriga com os porquinhos dessa família!

O terceiro porquinho vinha andando pelo seu caminho quando encontrou um homem que fabricava tijolos, e disse:

“Por favor, meu bom homem, me dê um tanto desses tijolos para que eu possa construir a minha casinha.”

O homem tinha sobrando e de bom grado deu muitos tijolos para o porquinho. Satisfeito, o porquinho estava tratando de reunir todo material que ganhara quando surgiram da mata seis dois irmãos, chorando, traumatizados.

“O que aconteceu irmãozinhos”, perguntou-lhe, “porque tanta tristeza?”

E os dois infelizes relataram tudo que tinha lhes acontecido, o lobo, suas casas destruídas e a intenção do lobo de fazer deles o seu almoço.

“Não se preocupem mais irmãos, tenho tijolos, este material é mais forte, sólido, vamos fazer nossa casinha com eles, e essa o lobo não poderá destruir!”

Sem perda de tempo trataram de construir sua sólida casinha. Não tardou e o lobo apareceu outra vez, e tal como fizera com os outros dois porquinhos, disse:

“Porquinho, porquinho, deixe-me entrar”.

“Não, não, pelos fios de minha barba, aqui você não vai entrar.”

“Então vou soprar, e vou bufar, e vou sua casa arrebentar.”

E ele soprou, e bufou, e soprou, e bufou, e bufou e soprou mais ainda, até ficar roxo e perder o fôlego, mas a casa não caiu. Então ele percebeu que essa casa era mais forte e que por mais que soprasse não conseguiria destruí-la. Pôs a cabeça para funcionar e teve uma, e disse:

“Porquinho, quero ser seu amigo, e para provar ofereço-me a mostrar-lhe onde há um magnífico campo de nabos.”

“Onde fica esse campo?” Perguntou o porquinho.

“Oh, nas terras do Sr. Jacó, e se estiver pronto amanhã de manhã virei buscá-lo; poderemos ir juntos colher nabos e nos divertir bastante.”

“Esta bem”, respondeu o porquinho, “está combinado. A que horas vai passar por aqui?”

“Oh, as seis em ponto, está bem?”

O porquinho levantou às cinco da manhã, ainda escuro, disse para seus irmãos ficarem bem quietos escondidos em casa, e foi para o campo dos nabos, chegando antes do lobo, que chegou às seis. Lá pegou tudo que queria e voltou correndo para casa, onde se trancou bem.

Às seis em ponto o lobo bateu na porta dos porquinhos:

“Porquinho (o lobo não sabia que os dois sobreviventes estavam lá!), está pronto?”

O porquinho respondeu: “Pronto? Já fui e já voltei, e tenho uma panela repleta de nabos para o jantar.”

O lobo ficou furioso, mas não ia desistir assim tão fácil, e disse: “Porquinho, conheço um lugar repleto de macieiras carregadinhas.”

“Onde?”, perguntou o porquinho.

“Lá na clareira do lago”, respondeu o lobo. “E se não me enganar virei buscá-lo amanhã, às cinco horas, para colhermos algumas maçãs.”

Na manhã seguinte o porquinho levantou às quatro horas, vestiu-se e foi para a clareira do lago colher as maçãs, esperando fazer a mesma coisa do dia anterior, mas a clareira era mais longe, e ele teve que subir nas árvores para colher as maçãs. Então, bem na hora em que ia descer da última árvore, com um saco cheinho de maçãs, viu o lobo se aproximar e ficou apavorado. E agora, o que fazer?

O lobo chegou e disse:

“Você gosta de levantar cedo, não é porquinho? Chegou antes de mim? Como estão as maçãs, estão doces?”

“Estão ótimas”, disse o porquinho, vou lhe jogar uma,” e jogou uma linda maçã o mais longe que pode. O lobo guloso correu para apanhá-la, e o porquinho por sua vez saltou para o chão e correu o mais rápido que pode até sua casa, trancando muito bem todas as portas e janelas.

No dia seguinte lá estava o lobo outra vez, mas agora muito zangado. Falou:

“Porquinho, perdi a paciência com você. Não vou esperar mais, vou entrar pela chaminé e devorá-lo, assim como fiz com seus irmãos!”

“Mentiroso” gritou o porquinho, “você não é de nada, não devorou meus irmãos, eles estão aqui comigo!” E os dois irmãos gritaram d dentro da casa para que o lobo pudesse ouvi-los. Enquanto isso o porquinho esperto pendurou um caldeirão cheio d’água na lareira acessa com um fogo bem alto. O lobo, cada vez mais furioso, começou a descer pela chaminé, e estava tão cego de ódio que nem viu a panela. Assim que tocou a água fervente deu um grito e saltou tão alto que voou pela chaminé, indo cair próximo à casa dos porquinhos. Bem nesse instante passavam por ali caçadores, que ao verem aquele lobo furiosos rapidamente o mataram, deixando os três irmãozinhos e todos os habitantes daquele lugar livres para sempre dos ataques do lobo.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

BRANCA DE NEVE

Era uma vez uma rainha que estava esperando o nascimento de seu primeiro filho. Certo dia, no mais frio do inverno, quando parecia que o mundo todo se tornara branco pela neve, ela estava sentada perto de uma janela que tinha uma moldura de ébano a costurar. Enquanto costurava espetou o dedo com a agulha e três gotinhas de sangue caíram sobre a neve alvíssima. O vermelho era tão bonito sobre o branco que a rainha exclamou: “Gostaria de ter uma filhinha branquinha como a neve, com a boca vermelha como o sangue e com os cabelos tão negros como a moldura de ébano da minha janela”. Pouco tempo depois deu a luz uma menininha que era branca como a neve, tinha os lábios vermelhos como o sangue e os cabelo negros como o ébano. Por isso recebeu o nome de Branca de Neve. A rainha morreu logo após o nascimento da criança.

Poucos anos depois o rei, cansado de viver sozinho, casou-se novamente. Era uma dama belíssima, mas, seu coração era duro, era orgulhosa, vaidosa e arrogante e não tolerava a idéia que alguém pudesse ser mais bonita do que ela. Possuía um espelho mágico e, sempre que ficava diante dele para se admirar, dizia:

“Espelho, espelho meu

Existe outra mulher mais bela do que eu?”

E o espelho sempre respondia:

“Não, minha rainha, sois de todas a mais bela.”

Então ela sorria feliz, pois sabia que o espelho não podia mentir.

Branca de Neve estava crescendo e, a cada dia que passava ficava mais e mais formosa. Assim que se tornou uma jovenzinha ficou tão bonita quanto o dia e mais bonita que a própria rainha. Um dia a rainha perguntou ao espelho:

“Espelho, espelho meu

Existe outra mulher mais bela do que eu?”

O espelho respondeu:

“Ó minha rainha, sois muito bela ainda,

Mas Branca de Neve é mil vezes mais linda”.

Ao ouvir estas palavras a rainha começou a tremer, parecia que ia explodir, e seu rosto ficou verde de inveja. A partir daquele momento passou a odiar Branca de Neve. Sempre que seus olhos pousavam nela sentia seu coração ficar frio como uma pedra. A inveja e o orgulho floresceram como pragas em seu coração. Dia ou noite, ela não tinha mais um momento de paz, vivia para odiar.

Um dia chamou um caçador r disse: “Leve a menina para a floresta. Nunca mais quero vê-la de volta; mate-a e me traga seu fígado e seu coração como prova de que a matou”.

O caçador ficou apavorado com esta ordem, conhecia a princesinha desde o nascimento e, com um grande tormento interior levou a menina para a mata com a desculpa que iriam passear. Em dado momento Branca de Neve virou-se de repente e se deparou com o caçador com uma faca na mão pronto para desferir-lhe um golpe mortal. Inocente ela começou a chorar e a suplicar: “Misericórdia caçador, não me mate!”

O caçador soltou a faca e disse: “Não posso fazer isso. Fuja Branca de Neve, a rainha mandou lhe matar, se voltar ao castelo morrerá na certa!”

Branca de Neve saiu correndo para dentro da densa floresta. Naquele instante passou por ali um filhote de javali; o caçador não perdeu tempo, matou-o as estocadas retirando em seguida seu coração e fígado para levá-los à rainha. Retornando ao castelo entregou os órgãos a perversa que exultante de satisfação levou ao cozinheiro pessoalmente, dando-lhe as intruções de como prepará-los. Depois comeu até satisfazer-se pensando que estava comendo os restos mortais da enteada. Neste ínterim a pobre menina vagava sozinha na vasta floresta. Estava muito assustada, começava a escurecer e cada árvore, cada galho parecia tomar formas fantasmagóricas. Desesperada pôs-se a correr cada vez mais adentro, embrenhando-se na mata, passando sobre pedras pontudas e entre espinheiros. De vez em quando feras passavam por ela, mas não lhe faziam mal. Ela corria apavorada que mal sentia as pernas.

Ao cair da noite viu ao longe uma luzinha e dirigiu-se a ela. Era uma pequena cabana e entrou para se abrigar. Nessa casa todas as coisas eram minúsculas, mas estava tudo tão limpo e bem organizado que era de espantar. Havia uma mesinha com sete pratinhos sobre uma toalha muito branca. Sobre cada pratinho havia uma colher, e do lado sete garfinhos e sete faquinhas, sem esquecer de sete canequinhas. Do outro lado estavam sete caminhas lado a lado, todas impecavelmente arrumadas com lençóis brancos como a neve. Sedenta e com fome Branca de Neve comeu um pouquinho de cada pratinha e tomou um gole de vinho de cada canequinha. Extenuada por tantas emoções juntou as caminhas, deitou e dormiu profundamente.

Já era noite fechada quando os proprietários da pequena cabana chegaram. Eram sete anões garimpeiros que passavam o dia nas montanhas escavando a terra em busca de minérios. Entraram na casa cada um segurando sua lanterninha e pararam assustados ao verem que as coisas não estavam do jeito que tinham deixado.

O primeiro anão perguntou: “Quem se sentou na minha cadeirinha?”

O segundo perguntou: “Quem usou o meu garfinho?”.

O terceiro perguntou: “Quem comeu o meu bolinho?”.

O quarto perguntou: “Quem comeu as minhas verdurinhas?”.

O quinto perguntou: “ Quem comeu do meu pratinho?”

O sexto perguntou: “Quem cortou com a minha faquinha?”

O sétimo enfim perguntou: “Quem bebeu da minha canequinha?”.

Os anõezinhos começaram a olhar em volta, fazendo exclamações a toda hora cada vez que se deparavam com suas coisas fora do lugar em que tinham posto, até que os olhos do sétimo anão caíram sobre as sete caminhas e viram Branca de Neve deitada nelas, dormindo a sono solto. Começou a gritar chamando os outros, que prontamente acudiram e ficaram tão assombrados que todos ergueram suas sete lanterninhas para ver melhor Branca de Neve.

“Meu Deus, como é linda!”, exclamavam boquiabertos, “É a mais linda menina que já vimos!”

Os anões ficaram tão encantados com a princesinha que resolveram não acordá-la, deixá-la continuar dormindo em suas caminhas. Pegaram almofadas e se arrumaram no tapete como puderam para dormir.

Logo de manhã Branca de Neve acordou. Quando viu os anõezinhos a volta de sua cama olhando para ela, ficou bem assustada, mas eles foram muito amáveis e perguntaram: “Qual é o seu nome?”

“ Meu nome é Branca de Neve”, ela respondeu.”

“Como você veio parar aqui?”, perguntaram.

Branca de Neve contou tudo que lhe acontecera, de como a madrasta mandou matá-la, e como o caçador poupara sua vida. Contou que saiu correndo pela floresta por várias horas até chegar à cabana deles.

Os anões lhe disseram: “Princesinha, se quiser ficar conosco e ajudar nas tarefas da casa, mantendo tudo limpo e arrumadinho, pode ficar, e nada lhe faltara”.

“Sim, quero ficar, é o que eu mais quero no momento.”

Desde esse dia Branca de Neve passou a cuidar da casa para os anões. De manhã bem cedo eles saiam para trabalhar no alto das montanhas, em busca de ouro e prata. Ao cais da noite voltavam e encontravam um gostoso jantar prontinho à sua espera. Como a princesinha passava os dias sozinha os anões recomendavam seriamente: “Não abra a porta para ninguém não se afaste da cabana. Sua madrasta é uma perversa bruxa e pode descobrir que não morreu e vir até aqui, atrás de você!”

A rainha porém, acreditando que havia comido o fígado e o coração de Branca de Neve, estava certa que era agora a mulher mais linda do mundo. Foi até o espelho e perguntou:

“Espelho, espelho meu

Existe outra mulher mais bela do que eu?”

O espelho respondeu:

“És sempre bela minha rainha

Mas na colina distante, por sete anões cercada,

Branca de Neve ainda vive e floresce,

E sua beleza jamais foi superada.”

Ao ouvir essas palavras primeiramente a rainha ficou abismada, pois sabia que o espelho era encantado e por isso não podia mentir. Depois quase explodiu de tanto ódio ao compreender que o caçador a enganara e que Branca de Neve continuava viva. Não perdeu tempo e, cheia de inveja, pôs-se imediatamente a maquinar uma maneira de se livrar dela.

Desceu aos porões do castelo, onde costumava praticar feitiçaria, e utilizando seus conhecimentos de bruxa ficou irreconhecível, tornando-se semelhante a uma velha. Desta forma disfarçada viajou para além das sete colinas até a casa dos sete anões. Lá chegando fingiu ser uma vendedora e anunciou: “Belas mercadorias, preço excelente!”

Ouvindo isso Branca de Neve olhou pela janela e, vendo a velhinha disse: “Bom dia, minha senhora. O que tem aí para vender?”

“Muitas coisas novas e bonitas”, a bruxa respondeu; “Os mais finos cordões para o corpete”, e puxou um cadarço de seda tecido em muitas cores.

“É só uma inofensiva velhinha”, disse para si mesma, “acho que não há mal em deixá-la entrar”, e correndo o ferrolho da porta comprou o bonito cadarço.

A bruxa, muito ladina, disse para Branca de Neve: “Oh, minha filha, você é tão bonita, mas está tão desarrumada. Sente-se aqui perto de mim e deixe que eu arrume o cadarço pra você”.

Branca de Neve, completamente inocente sobre as verdadeiras intenções da bruxa, colocou-se diante da velha e deixou que ela arrumasse seu cadarço de seda. A perversa apertou o cadarço tanto e tão depressa que Branca de Neve ficou sem fôlego e caiu desmaiada como se estivesse morta.

“Gostou, agora quero só ver quem é afinal a mais bela de todas.”

Já era de tardinha, não demorou a anoitecer e não demorou muito os anõezinhos voltaram pra casa. Quando entraram deram com sua amada Branca de Neve estendida no chão e ficaram horrorizados. Ela não se mexia, nem um pouquinho sequer, e eles acreditavam que estivesse morta. Ergueram-na para colocá-la sobre a cama e aí perceberam o cadarço do corpete, fortemente amarrado, e o cortaram com a tesoura. A princesinha começou a respirar, e pouco a pouco voltou à vida. /quando os anões souberam o que tinha acontecido disseram: “A velha vendedora era a rainha má disfarçada. Tome mais cuidado e não deixe ninguém entrar, a menos que estejamos em casa.”

Assim que chegou no castelo a primeira coisa que a rainha fez foi dirigir-se ao espelho mágico e perguntar:

“Espelho, espelho meu

Existe outra mulher mais bela do que eu?”

O espelho respondeu como sempre fazia:

“És sempre bela, minha rainha

Mas na colina distante, por sete anões cercada,

Branca de Neve ainda vive e floresce,

E sua beleza jamais foi superada.”

Ao ouvir as palavras do espelho a rainha tornou-se possessa de raiva, tremia e vociferava: “Branca de Neve tem que morrer, mesmo que isso custe minha própria vida!”

Dirigiu-se ao calabouço do castelo, onde guardava seus apetrechos de magia negra e só ela tinha acesso, e imediatamente começou a elaborar uma maçã envenenada, e enquanto assim fazia, seu semblante expunha toda malignidade de seu perverso coração. A aparência da fruta encantada era maravilhosa – branca com as faces vermelhas – num mórbido paralelismo com sua vítima. Qualquer um desejaria comer essa maçã, mas, bastaria uma só mordida para levar à morte.

Assim que terminou de confeccionar a maçã enfeitiçada, usando de artimanhas trans mutou-se desta vez na forma de uma velha camponesa e partiu para além das sete colinas até a casa das sete anões.

A bruxa bateu à porta e Branca de Neve olhou pela janela e disse: ”Fale o que a senhora deseja aí fora, pois estou proibida de deixar entrar estranhos””

“Não faz mal”, respondeu a camponesa, “Posso lhe mostrar a minha mercadoria daqui mesmo. Prove essa linda maçã, presente meu”.

“Não”, respondeu Branca de Neve, “estou proibida de aceitar seja o que for de estranhos”.

“Não tenha medo, não está envenenada”, disse a velha, “vou provar pra você. Vou partir a maçã ao meio, você come uma metade e eu como a outra, esta bem assim?”

O veneno da maçã estava todinho concentrado na sua casca, não atingia a parte interna. Branca de Neve estava com a boca aguada de tanto desejo de comer a maçã e, quando viu a camponesa morder seu pedaço não resistiu mais. Estendeu a mão e pegou a outra metade. Assim que mordeu, caiu morta no chão. A rainha triunfante olhou-a caída no chão, explodiu numa sonora gargalhada e falou ironizando a falecida rainha, mãe da princesinha: “Branca como neve, boca vermelha como o sangue, cabelos negros como o ébano, eu venci! Desta vez aqueles horríveis anões não conseguirão trazê-la de volta à vida!”

Chegando ao castelo dirigiu-se de imediato ao espelho mágico e perguntou:

“Espelho, espelho meu

Existe outra mulher mais bela do que eu?”

E desta vez o espelho respondeu:

“Sois vós, minha rainha, do reino a mais bela.”

E a invejosa rainha mal podia se conter de tanta felicidade.

Ao cair da noite os anões voltaram pra casa e encontraram Branca de Neve caída no chão. Não tinha respiração e nenhum movimento. Ergueram-na a procuraram algo em volta que pudesse ser venenoso. Procuraram em seus cabelos, seu bolso, mas nada. Ficaram completamente desalentados, a princesinha estava morta e nada mais poderia ser feito para trazê-la de volta. Construíram um caixão de vidro, com inscrições em ouro com seu nome e os dizeres que ali estava a filha de um rei, daí colocaram nele Branca de Neve. Depois os sete se sentaram em torno dela e a velaram. Por três dias assim ficaram, chorando na mais profunda tristeza. Levaram o caixão até o topo de uma alta montanha e mantinham sempre um deles montando guarda. Os animais também foram chorar por Branca de Neve, desde as aves até as feras.

Branca de Neve permaneceu no caixão e muito tempo se passou, entretanto seu corpo não se decompunha, e dava a impressão de estar dormindo. Suas feições continuavam as mesmas, branca como a neve, boca vermelha como o sangue e cabelos negros como o ébano.

Certo dia um belo e valente príncipe, filho de um poderoso rei atravessava a floresta quando chegou à casa dos sete anões.Queria pedir hospedagem por uma noite. Quando subiu no alto da montanha, atrás dos donos da cabana, se deparou com o caixão com a linda Branca de Neve deitada dentro dele rodeada pelos anões. Leu os dizeres em ouro e viu tratar-se de uma princesa. Ficou de tão forma encantado com a beleza da princesinha que disse aos anões: “Deixai-me levar esse caixão. Eu pagarei o que pedirem”.

Os anões responderam: “Não o venderíamos nem por todo ouro do mundo!”

O príncipe então respondeu: “Dêem-me então como presente, pois depois que a vi não posso mais viver sem ela. Vou honrá-la e tratá-la como se fosse minha amada.”

Os anões, comovidos com o profundo sentimento do príncipe, se apiedaram dele e lhe entregaram o caixão. O príncipe mandou vir seus criados a quem ordenou que pusessem o ataúde sobre os ombros e o transportassem. Mas aconteceu que o peso era grande e eles tropeçaram, dando um tranco no caixão. Com o solavanco o pedaço de maçã envenenada que estava preso na garganta de Branca de Neve se soltou, e ela prontamente voltou à vida e exclamou assustada: “O que aconteceu, onde estou?”

O príncipe com radiante alegria diante do que acontecera, disse: ‘Você vai ficar comigo!”, e contou-lhe o que acontecera. “Eu te amo mais que tudo no mundo”, ele disse, “Venha comigo para o castelo do meu pai, seja minha noiva, case comigo!” Branca de Neve sentiu um grande amor pelo príncipe, segundo suas palavras “maior que o mundo”, e partiu com ele. Em breve as núpcias foram celebradas com enorme esplendor e com a presença dos queridos anõezinhos.

A perversa madrasta também foi convidada para a festa de casamento da princesa. Vestiu suas mais belas roupas, pois o que mais gostava era expor sua beleza, postou-se diante do espelho e disse:

“Espelho, espelho meu

Existe outra mulher mais bela do que eu?”

O espelho respondeu:

Ó minha rainha, sois muito bela ainda,

Mas a jovem rainha é mil vezes mais linda.”

A malvada mulher ficou de tal forma possessa que jogou tudo que encontrou pela frente sobre o espelho, que se espatifou em mil pedaços, libertando o gênio escravo do espelho, que partiu aliviado por não precisar mais servir a uma rainha tão pérfida.

Foi à festa de casamento com as piores intenções de seu negro coração. Quando entrou no castelo, Branca de Neve a reconheceu no mesmo instante. A bruxa, ao ver que se tratava da princesinha ficou tão aterrorizada que saiu correndo pela porta, com medo de ser punida pelos seus terríveis atos. Porém, antes que desse muitos passos um raio saiu do céu a fulminou, deixando-a completamente esturricada e morta no chão.

O rei, pai de Branca de Neve, que há muitos anos vivia preso imóvel à uma cama, vítima das feitiçarias da rainha, se libertou recobrando a consciência e a saúde. Ele e o castelo inteiro festejaram o fim da rainha, que a todos perseguia, e foi ao encontro de sua amada filha. Agora, todos em plena alegria festejaram por sete dias a chegada de uma era de paz e Branca de Neve e seu príncipe viveram felizes para sempre.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O BARBA AZUL

Era uma vez um homem muito rico, possuía muitas propriedades, todas com belíssimos palácios, na cidade e no campo. Tudo que tinha dentro de seus palácios era belo e suntuoso, suas baixelas eram de ouro e prata, as cadeiras eram estofadas com tapeçarias, as carruagens recobertas de ouro. Mas apesar de toda sua riqueza ele tinha uma tristeza, sua barba era azul, e isso o tornava tão feio que todas as mulheres e moças fugiam quando se deparavam com ele.

Nas redondezas vivia uma nobre dama que tinha duas filhas e quatro filhos, e ninguém sabia dizer qual delas era mais bela. O homem pediu a essa senhora que lhe concedesse a mão de uma de suas filhas, e deixou que ela mesma escolhesse qual das duas lhe daria. O pedido não agradou a nenhuma das duas, que ficaram empurrando o pedido de uma para a outra, pois nenhuma delas queria se casar com um homem de barba azul. O que tornava a situação mais difícil e as moças mais descontentes é que este homem já se casara muitas vezes antes e ninguém sabia o que fora feito das antigas esposas.

Para conquistar sua amizade, Barba Azul levou as moças, os irmãos e a mãe, algumas amigas delas e mais alguns rapazes conhecidos na cidade para uma estadia em uma de suas casas de campo. Ficaram lá por mais de uma semana, e para sua surpresa divertiram-se muito, fizeram incansáveis passeios, pescarias, caçadas, piqueniques, danças, banquetes e ceias. À noite pregavam peças uns nos outros e era tão divertido que mal viam a noite passar. Por fim foi tudo tão agradável que a filha caçula, Leonora, começou a se envolver com ele, achando-o um perfeito cavalheiro, um homem maravilhoso, e que aquela barba não era assim tão feia. Assim que retornaram à cidade o casamento foi realizado.

Um mês se passou na mais perfeita calma e alegria até que um dia Barba Azul disse à mulher que precisava viajar para tratar de negócios importantes na cidade próxima. Demoraria pelo menos seis semanas. Insistiu que ela se divertisse na sua ausência. Se lhe agradasse poderia receber suas amigas e passar com elas um tempo na casa de campo.

Entregou à esposa uma grande argola cheia de chaves e foi descrevendo a porta que cada uma delas abria: “ Estas são as chaves dos dois grandes depósitos, estas são as dos meus cofres-fortes onde estão guardados todo nosso ouro e nossa prata, esta outra é onde estão as baixelas de ouro e prata que não são de uso diário, essa a do quarto onde guardo todas as jóias, e aqui está a chave mestra de todos os aposentos do palácio. Por último tem essa chave pequenina, é a chave do gabinete da grande galeria do térreo. Você é livre para abrir qualquer porta e para entrar onde quiser, mas proíbo-lhe terminantemente de entrar nesse quartinho e, se abrir nem que seja uma pequena fresta dessa porta nada neste mundo poderá protegê-la da minha ira.

Leonora prometeu que obedeceria estritamente as suas ordens, que não precisava se preocupar. Barba Azul lhe deu um beijo de despedida, entrou na carruagem e partiu rumo aos seus negócios.

As amigas da recém-casada, ansiosas por conhecer o fausto do palácio não pensaram duas vezes quando esta lhes fez o convite. Enquanto o marido estava por lá elas não ousavam se aproximar, pois aquela barba azul as amedrontava. Sem perda de tempo começaram a explorar tudo que encontravam, os salões ricamente decorados, os gabinetes, os quartos, os guarda-roupas cada um mais suntuoso que o outro, ficando boquiabertas diante de tanta riqueza e de tanta beleza, tapeçarias, camas, sofás, pratarias, cristaleiras e cristais, tecidos, baixelas, louças das mais finas, etc.Havia espelhos em que a pessoa podia se ver da cabeça aos pés. Alguns espelhos tinham moldura de vidro, outros de prata, outros eram bisotados, e todos eram os mais bonitos e magníficos que já tinham visto.

As convidadas estavam para morrer de inveja da amiga. Esta, porém, não conseguia se divertir com nada, nem com a companhia das amigas, nem com sua vida luxuosa, pois em seu pensamento só uma coisa existia: abrir o gabinete do andar térreo. Estava tão atormentada por sua curiosidade que, sem nem se aperceber que era uma falta da anfitriã abandonar suas convidadas sozinhas, desceu por uma escadinha secreta, e tão depressa que por duas ou três vezes quase rolou pelos degraus abaixo. Por fim chegou à porta do gabinete e parou, considerando quais poderiam ser as conseqüências de eu ato, desobedecendo a veemente proibição do marido. Mas a tentação era grande demais e a venceu. Tremendo de emoção pegou a chavezinha e abriu a porta.

Não conseguia enxergar nada, as janelas estavam fechadas. Aos poucos seus olhos foram se acostumando à escuridão e começou a perceber que o assoalho estava todo recoberto por sangue coagulado, e que naquele sangue se refletiam os cadáveres de muitas mulheres mortas, as antigas esposas do Barba Azul, dependuradas ao longo das paredes, degoladas e enfileiradas num espetáculo macabro e aterrador.

Ficou paralisada de pavor e, ao puxar a chave da fechadura, esta caiu de sua mão trêmula. Respirou fundo, apanhou a chave, trancou a porta e subiu ao seu quarto para recobrar a calam. Esforço em vão, seus nervos estavam em frangalhos, naquele momento nada conseguiria tranqüilizá-la. Foi aí que olhou a pequena chave do gabinete macabro e notou que ela ficara manchada de sangue.Esfregou-a com seu lenço duas ou três vezes, mas o sangue não saia, parecia estar impregnado na chave. Tentou lavá-la e esfregá-la com areia, sabão e com todo material de limpeza que encontrou, mas o sangue não saía, pois a chave era encantada e não havia meio comum que pudesse remover àquela mancha. Bastava limpar o sangue de um lado da chave que ele reaparecia no outro lado.

Naquela mesma noite Barba Azul chegou de viagem dizendo que seus negócios se resolveram antes do que ele pensava, auferindo grandes lucros. Leonora fez tudo que pôde para lhe demonstrar que estava radiante com seu rápido regresso. Na manhã seguinte ele pediu as chaves de volta e ela as devolveu, mas suas mãos tremiam tanto que facilmente ele entendeu tudo que acontecera na sua ausência.

“Onde está a chave do gabinete”, perguntou, “por que não está junto com as outras ?”

“Acho que a esqueci lá em cima, na mesinha do quarto”.

“Não esqueça de devolvê-la logo mais”, disse Barba Azul.

Leonora tentou o quanto pode esquivar-se de devolver a chave, até que não foi mais possível. O marido recebeu a chave e após examiná-la muito bem perguntou à mulher:

“Por que a chave está manchada de sangue?”

“Não tenho a menor idéia”, respondeu a pobre mulher, trêmula e pálida.

“Não tenho a menor idéia”, replicou Barba Azul, “mas eu tenho”. Você me desobedeceu e entrou no gabinete! Pois agora entrará ali e não mais sairá, você tomara seu devido lugar ao lado das damas que lá já estão.

Em prantos a pobre se atirou aos pés do marido implorando seu perdão, jurando arrependimento. Teria comovido um rochedo o seu sofrimento. Mas Barba Azul tinha o coração mais duro que um rochedo.

“Você precisa morrer”, o perverso lhe disse, “e imediatamente”.

“Já que não há escapatória”, ela respondeu, fitando-o diretamente nos olhos, “me dê algum tempo para que eu possa fazer minhas orações”.

“Dou-lhe um quarto de hora”, disse o marido, “mas nem um segundo a mais.”.

Quando ficou sozinha chamou Ana, sua irmã mais velha que estava passando uns dias na casa, contou o que sucedera e disse: “minha irmã, suba no alto da torre e veja se nossos irmãos estão chegando. Eles me prometeram me fazer uma visita ainda hoje. Assim que os vir faça um sinal para que se apressem.”.

Muito aflita Ana subiu rapidamente ao alto da torre e de vez em quando a pobre Leonora desesperada perguntava: “Ana, querida irmã, não está vendo ninguém chegar?”.

E a irmã respondia: “Só vejo o sol ofuscante e o capim verdejante”.

Nesta hora Barba Azul, visivelmente transtornado e com um cutelo nas mãos, gritou para a mulher a plenos pulmões:

“Desça já, ou subirei aí para buscá-la”.

“Um momento mais, por favor, ainda não acabei de rezar”, a mulher lhe respondeu, e logo perguntou baixinho:

“Ana, querida irmã, não está vendo chegar ninguém?”

E a irmã respondeu:

“Só vejo o sol ofuscante e o capim verdejante”.

“Trate de descer depressa, ou subirei aí para buscá-la”.

“Já vou! Respondeu Leonora, e implorou:

“Ana, querida irmã, não está vendo chegar ninguém?”

“Estou vendo”, ela respondeu, “vejo quatro cavaleiros que vêm para este lado, mas ainda estão muito longe...Deus seja louvado!” ela exclamou aliviada. “São os nossos irmãos. Estou fazendo todos os sinais que posso para que acelerem o passo.”

Barba Azul completamente enfurecido se pôs a gritar tão alto que toda a casa tremeu. A infeliz esposa desceu e jogou-se a seus pés, debulhando-se em lágrimas, toda descabelada.

“Nada que você faça poderá me comover”, disse Barba Azul, “Você tem de morrer.”

Com uma das mãos agarrou-a pelos cabelos e com a outra ergueu o cutelo no ar, pronto para lhe cortar a cabeça. Leonora voltou-se para ele com os olhos repletos de lágrimas e suplicou que lhe desse um momento para que se preparasse.

Com um olhar duro e a voz mais dura ainda ele respondeu: “Não. Recomende a alma a Deus, pois sua hora chegou.” E erguendo o braço...

Nesse instante bateram à porta com tanta força que Barba Azul ficou simplesmente paralisado. A porta foi arrombada com violência e por ela entraram quatro soberbos cavaleiros que, empunhando a espada, correram diretamente para Barba Azul. Reconhecendo os irmãos de sua mulher, dois dragões, os dois outros mosqueteiros, ele saiu correndo para salvar a própria pele. Mas os quatro irmãos, ágeis e bem treinados, o perseguiram tão de perto que facilmente o agarraram antes que esse pudesse chegar à escada. Atravessaram seu corpo com suas espadas e o deixaram cair morto. Leonora completamente extenuada mal teve forças para se levantar e abraçar os irmãos.

Como Barba Azul não tinha herdeiros sua mulher recebeu a posse de todos os seus bens. Ela empregou parte de sua fortuna para casar a irmã Ana com um jovem fidalgo que a amava há muito tempo. Parte empregou para ajudar seus quatro irmãos a ficarem muito bem de vida e para a sua mãe, que embora nobre tinha alguns problemas financeiros. Com toa sua família amparada e feliz Leonora tratou enfim de seu próprio casamento com um nobre muito direito que conheceu e por que se apaixonou, e que por também amá-la muito a fez esquecer tudo o que sofrera nas mãos do Barba Azul.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

A BELA E A FERA

Era uma vez um rico negociante que tinha seis filhos, três rapazes e três moças. Amava muito seus filhos e deu a eles excelente educação com ótimos instrutores. Suas filhas eram muito bonitas e a caçula se destacava em beleza e bondade. Desde o nascimento todos a chamavam de “bela menina”, assim ela acabou sendo batizada como “Bela” – o que deixava suas irmãs com cheias de inveja.
A caçula, além de mais bela era também melhor que suas irmãs. As mais velhas eram muito orgulhosas de sua riqueza e de sua beleza. Davam-se ares de grandes damas e não permitiam que outras filhas de comerciantes as visitassem, pois só gostavam da companhia de pessoas da nobreza. Tinham uma vida muito agitada, todos os dias iam aos bailes, ao teatro e zombavam da caçula, que possuía riqueza interior e ocupava a maior parte de seu tempo lendo bons livros.
Como a família era muito rica não lhes faltava pretendentes, filhos de ricos negociantes que as pediam em casamento. As duas mais velhas esnobavam todos os rapazes que se aproximavam delas dizendo que nunca se casariam, a não ser que fosse com duques, ou pelo menos, com condes. Bela agradecia delicadamente aos que queriam desposá-la, mas dizia que era muito jovem e que desejava continuar na companhia de seu pai por mais alguns anos.
Num golpe do destino, da noite para o dia o negociante perdeu tudo que tinha, ficando sem sua fortuna. Só lhe restou uma pequena casa de campo, bem longe da cidade. Desolado contou aos filhos o que sucedera e que teriam de ir morar no campo, trabalhando como camponeses para sobreviver. As duas filhas mais velhas ficaram furiosas, disseram que não deixariam a cidade, que tinha, vários admiradores que ficariam felicíssimos em se casar com elas, apesar de não terem mais fortuna. Bem se vê que essas pobres criaturas nada conheciam da vida e estavam completamente enganadas. Seus admiradores não queriam mais nem olhar pra elas agora que estavam pobres. Ninguém gostava delas por causa de sua soberba e agora diziam: “Chegou a hora das grandes damas pastorearem carneiros no pasto”. Mas ao mesmo tempo todo o mundo repetia: “Quanto a Bela temos muita pena de seu infortúnio. É uma moça tão boa! Trata os pobres com tanta bondade, é tão carinhosa, tão virtuosa...”.
Muitos fidalgos quiseram se casar com Bela, embora ela não tivesse mais nem um tostão, e a todos ela explicava que não podia abandonar seu pai agora que estava na miséria, que iria com ele para o campo e o ajudaria em tudo que precisasse. No começo Bela ficou muito abatida por sua família ter perdido a fortuna, mas refletiu e percebeu que chorar e sofrer não devolveria sua antiga situação de opulência: “Tenho tratar de ser feliz sem ela”.
Já morando em sua casa nova no campo o negociante e os filhos passavam o dia lavrando a terra. Bela acordava de madrugada e já começava a limpar toda a casa e fazer o café da manhã para toda família. No começo foi muito difícil, pois não estava acostumada a trabalhar como uma criada, mas com o passar do tempo o trabalho tornou-a forte e mais saudável. Quando terminava seus afazeres ainda lia, tocava cravo ou cantava enquanto fiava. Suas duas irmãs, por outro lado, passavam o dia sem fazer nada, não davam a menor ajuda e morriam de tédio. Acordavam quando a manhã já ia alta e passeavam o dia inteiro pela propriedade só se lamentando pela perda da posição, das festas e roupas que não tinham mais.
“Veja só a nossa irmã”, diziam, referindo-se a Bela, “é tão grosseira e estúpida que está contente com a sua situação!
O bom negociante ficava muito incomodado com o jeito das filhas mais velhas tratarem Bela, pois sabia que ela era uma moça especial, ao contrário das irmãs, tão frívolas. Admirava as virtudes dessa filha, e, sobretudo a sua paciência, pois as irmãs, além de descarregar todo trabalho doméstico nas costas da caçula, insultavam-na a todo instante.
Já se passara um ano desde que a família estava nesta situação quando o negociante recebeu uma carta informando que um navio, que trazia mercadorias suas, acabava de atracar com segurança. As irmãs mais velhas ficaram alucinadas com essa notícia, achando que finalmente iriam voltar à cidade e se libertar da vida no campo que tanto odiavam. Acompanharam o pai até a porta pedindo que ele lhes trouxesse ricos presentes, vestidos, jóias, perucas, adornos e tudo de caro que pudessem carregar. Bela não pediu nada, pois pensou consigo mesma que todo dinheiro que seu pai ganhasse com as mercadorias não seria suficiente para comprar tudo que as irmãs desejavam
“Bela, o que você quer de presente?”, perguntou o pai.
“A única coisa que eu gostaria de ganhar é uma rosa, pois essa flor não cresce aqui”.
As irmãs começaram a zoar chamando Bela de simplória, mas como sempre A jovem ignorou-as.
O negociante partiu. Chegando ao porto teve a triste surpresa de descobrir que estava pobre como antes, pois suas mercadorias tinham problemas legais e só lhe deram contrariedades. Só faltavam poucos quilômetros para chegar a casa e ele já sentia o prazer de rever os filhos. Antes de chegar, porém, tinha de atravessar um enorme bosque ela ele se perdeu. Andou em círculos por muitas horas em meio a uma terrível tempestade de neve e sob um vento tão forte que mais de uma vez chegou a derrubá-lo do cavalo. Quando a noite caiu, exausto, faminto e meio desesperado pensava que morreria de fome ou de frio, ou que seria comido pelos lobos que ouvia uivar à sua volta.
Inesperadamente, ao fim de um comprido túnel de árvores, viu uma forte luz que brilhava, mas parecia estar ainda muito distante. Segui rumo àquela direção e viu que a luz saia de um grande palácio, todo iluminado. O negociante agradeceu à Deus pelo socorro que lhe enviara e tratou de chegar o mais rápido possível àquele castelo. Ficou surpreso ao notar que os pátios estavam desertos, não tinha uma viva alma. Seu cavalo, que o seguia, entrou sozinho ao ver um grande estábulo vazio. Lá encontrou feno e aveia, e o pobre animal, que estava morto de fome, pôs-se a comer com apetite voraz. O negociante o amarrou no estábulo e dirigiu-se ao castelo. Não havia ninguém à vista, mas, tendo entrado num amplo salão, encontrou um bom fogo e uma mesa farta de boa comida, com prato e talheres para apenas uma pessoa. Como estava encharcado até os ossos pela neve e chuva que tomara, aproximou-se do fogo para se aquecer, pensando consigo mesmo: “O dono da casa ou seus criados perdoarão a liberdade que tomei. Provavelmente logo vão aparecer”!
Esperou durante longo tempo, aproximava-se a meia-noite e cansado de esperar e faminto não resistiu mais: comeu com gosto um frango apetitoso que estava a sua frente, serviu-se do vinho e comeu até fartar-se. Já refeito do cansaço e mais animado, saiu da sala e atravessou vários salões magnificamente mobiliados. Finalmente encontrou um quarto onde havia uma cama. Passava da meia-noite, ele estava exausto, fechou a porta e foi dormir.
No dia seguinte quando se levantou passava das dez horas da manhã. Para sua surpresa encontrou uma roupa nova e limpinha no lugar da sua, que havia se estragado na tempestade. “Com certeza”, pensou consigo mesmo, “este palácio pertence a uma boa fada que teve piedade da minha situação”.
Olhou pela janela e viu que não havia mais o menor resquício da terrível tempestade da noite anterior, não havia mais neve, mas alamedas rodeadas por flores que encantavam a vista. Voltou para o salão onde ceara na noite anterior e encontrou um chocolate quente sobre a mesa.
“Muito obrigada senhora fada”, falou em voz alta, “por ter tido a bondade de me servir esse café da manhã”.
Tomou seu chocolate e foi em busca de seu cavalo, preparando-se para partir. Ao passar pelo canteiro de rosas lembrou - se do pedido da filha e colheu um ramo com várias flores. No mesmo instante ouviu soar um barulho assustador e aproximou-se dele uma fera tão medonha que ficou petrificado, não conseguia se mover.
Com um vozeirão terrível a fera lhe disse: “O senhor é um ingrato. Salvei sua vida, recebi-o no meu castelo e, para minha decepção o senhor rouba minhas rosas, que amo mais do que tudo no mundo. Só a morte para reparar esse erro. Dou-lhe dez minutos para rezar à Deus ou ao Diabo, o senhor é quem escolhe, antes de morrer.”
O negociante ficou desesperado, ajoelhou-se e suplicou ao monstro: “Perdoai-me Vossa Alteza, colhi uma rosa na melhor das intenções apenas para atender ao pedido de uma das minhas filhas, não tive intenção de ofendê-lo.”
“Não me chamo Vossa Alteza”, respondeu o monstro, “não tenho nome, pode me chamar de Fera”. E não tolero elogios, gosto da franqueza, que se diga o que pensa. Não tente me comover puxando meu saco com bajulações, mas disponho-me a perdoá-lo com a condição que sua filha, a que pediu a rosa ,voluntariamente se ofereça para morrer em seu lugar. E não me venha com histórias. Parta imediatamente e jure que se sua filha se recusar a morrer por você, estará de volta daqui a três dias.
O negociante não tinha intenção de sacrificar nenhum de seus filhos àquele monstro malvado, mas pensou: “Ao menos poderei abraçar meus filhos ainda uma vez antes de morrer”. Jurou ao monstro tudo que ele queria e a fera lhe deu permissão para partir quando quisesse. “Não quero que chegue a sua casa de mãos vazias. Volte ao quarto onde dormiu e lá encontrará um grande cofre vazio. Encha-o com tudo que desejar, mandarei levá-lo à sua casa.”
A Fera retirou-se o deixando sozinho e o negociante pensou: “Já que vou morrer pelo menos levarei tudo que puder para ajudar meus filhos”.
Voltou a seu quarto e, encontrando ali grande quantidade de moedas de ouro e jóias valorosas, encheu até a borda o cofre que a Fera havia falado. Fechou-o, foi buscar seu cavalo no estábulo e partiu do palácio com uma tristeza tão grande que seu coração doía. Seu cavalo instintivamente escolheu o caminho certo no meio da floresta, e em poucas horas o negociante chegava enfim em sua casa.
Seus seis filhos vieram correndo ao seu encontro a abraçá-lo, mas, em vez de se alegrar com seus carinhos, pôs-se a chorar. Tinha nas mãos o ramo de rosas que trazia para Bela. Ao entregá-lo disse: “Bela, cuide bem dessas rosas. Elas custaram muito caro ao seu pobre pai.” E prontamente contou à família a extraordinária aventura por que passara. Ao ouvir seu relato as filhas mais velhas ficaram furiosas. Gritavam, esbravejavam e lançavam insultos contra Bela, que chorava sem parar. “Vejam o resultado da idiotice dessa criatura”, disseram, “Por que não pediu artigos de toalete como nós? Mas não, a senhorita queria ser diferente e por causa disse vai causar a morte do nosso pai.”
“Por que eu deveria chorar a morte do meu pai”, perguntou Bela, se refazendo do primeiro choque, “ele não vai morrer. Como o monstro está disposto a aceitar a filha que pediu a rosa em troca dele, vou me entregar a sua fúria. Estou muito feliz, porque morrendo, terei a alegria de salvar meu pai e lhe provar o meu amor.”
Prontamente respondiam seus três irmãos: “Não minha irmã. Você não vai morrer. Vamos encontrar esse monstro e matá-lo, ou morrer lutando!”.
“Não se enganem meus filhos”, disse-lhes o negociante. “A força da Fera é tal que não tenho a menor esperança que possamos matá-la. Fico comovido com o coração abnegado de Bela, mas não quero entregá-la a morte. Já estou velho e provavelmente não tenho mais muito tempo de vida. Só lamento porque não estarei mais com vocês, meus queridos filhos.”
“Não permitirei que vá sozinho a esse palácio”, disse Bela. Prefiro ser devorada por essa fera a ter de agüentar a dor que sentiria com a sua perda.”
Não adiantou argumentar, Bela estava irremovível na decisão de partir para o palácio. Suas irmãs, pelo contrário, ficaram encantadas por essa idéia, já que iriam se livrar da caçula por quem nutriam grande inveja. O negociante estava tão absorvido com a dor de perder a filha que não se lembrou do cofre repleto de ouro que trouxera. Porém, assim que se fechou em seu quarto para dormir, ficou muito espantado por encontrá-lo junto à sua cama. Decidiu esconder dos filhos que estavam ricos novamente, porque as moças iriam imediatamente querer voltar para a cidade e ele queria viver o tempo que lhe restara no campo. Mas, confiou o segredo a Bela, que por sua vez lhe contou que, durante o tempo em que estivera fora, foram visitados por fidalgos. Dois desses ricos homens eram apaixonados por suas irmãs, e ela pediu ao pai que as casasse. Era tão boa que apesar de tudo que elas lhe faziam, ainda gostava delas, e as perdoava de todo coração pelo mal que lhe haviam feito.
Quando na manhã seguinte Bela partiu como pai, as duas irmãs tão falsas esfregaram cebola nos olhos para parecer que choravam, mas os três irmãos choravam de verdade, desolados, assim como o negociante. Bela agüentava firme para não piorar ainda mais a situação que era tão dolorosa.
Os cavalos rumaram pelo caminho que levava ao palácio e, ao anoitecer, puderam vê-lo iluminado como da primeira vez. Deixaram os cavalos no estábulo e o negociante e a filha entraram no salão, onde encontraram uma mesa magnificamente servida, com pretos e talheres para dois. O negociante não conseguia comer nada diante desta situação, mas Bela, esforçando-se para parecer tranqüila, sentou-se à mesa e o serviu. Enquanto isso pensava: “A Fera que me engordar antes de me comer, por isso me serve essa farta refeição.” Assim que acabaram de comer ouviram um barulho estrondoso e o negociante, em lágrimas, despediu-se da filha, porque sabia que a Fera se aproximava. Bela não pode conter um arrepio ao ver aquela terrível figura. Após o susto do primeiro contato controlou-se o melhor que pôde, e quando o monstro lhe perguntou se viera espontaneamente, respondeu tremendo que sim.
“Você é muito bondosa”, disse a Fera, “e sou-lhe muito agradecido. Quanto ao senhor, meu bom homem, parta pela manhã, e nunca mais ouse voltar aqui. Até mais Bela.”
“Até mais Fera, Bela respondeu, e o ser fantástico retirou do aposento”.
“Ah, minha filha!” disse o negociante dando um abraço apertado em Bela, “Já estou arrependido de ter concordado com você, parta e deixe que eu fique aqui.”
“Não meu pai”, disse Bela com firmeza, “O senhor partirá amanhã assim que o dia clarear, e me entregará à misericórdia de Deus. Que Ele tenha piedade de mim!”
Os dois se recolherem muito atormentados achando que não conseguiriam pregar os olhos a noite inteira, porém, mal havia se deitado caíram no mais profundo dos sonos. Enquanto dormia Bela sonhou com uma dama que lhe dizia: “Estou contente com seu bom coração e com sua coragem Bela. Sua boa ação, oferecendo a sua própria vida para salvar a do seu pai não ficará sem recompensa.”

Logo que acordou Bela contou o sonho a seu pai, e mesmo com esse consolo não conseguiu conter um choro muito sofrido ao se separar de sua querida filha.

Depois da partida do pai Bela sentou-se no grande salão e começou a chorar também. Porém, como era muito corajosa entregou-se nas mãos de Deus e decidiu que não adiantava se atormentar mais com algo que já estava determinado, e resolveu esperar em paz a hora em que a Fera a devoraria.

Enquanto esperava, resolveu visitar o castelo, pois era muito bonito. Foi andando pelos corredores e teve a maior surpresa ao se deparar com uma porta onde estava escrito: Aposentos de Bela. Em um impulso abriu a porta e ficou com a magnificência que encontrou ali, onde não faltava um grande armário repleto de bons livros, um cravo e várias partituras de música.

“Alguém que me agradar”, murmurou. Em seguida pensou: “Se eu tivesse só um dia para passar aqui não estariam me cobrindo com tantos presentes.” Esse pensamento a alegrou. Abriu um armário e encontrou um livro onde estava escrito em letras douradas: “Vossos desejos são ordens. Aqui, sois a rainha e a senhora.

“Com um longo suspiro pensou: “Tudo que desejo é rever meu pai e saber o que está fazendo agora.” Foi só um pensamento, mas para sua surpresa, ao olhar para um grande espelho a sua frente, viu nele a sua casa e seu pai chegando com um semblante arrasado. As irmãs correram para abraçá-lo fazendo caretas para parecerem tristes, enquanto seus olhos transbordavam de felicidade por não precisarem mais rever a irmã da qual morriam de inveja. Essa cena durou apenas alguns instantes, desaparecendo logo em seguida, e Bela admitiu que a Fera era bem indulgente, e que ela não devia temê-la.

Ao meio-dia encontrou a mesa posta e almoçou ouvindo um concerto arrebatador, embora não visse ninguém a tocar nenhum instrumento. Na hora do jantar, assim que se sentou à mesa ouviu o barulho que antecedia a chegada da Fera e não pode conter um calafrio.

“Bela”, disse o monstro, “minha presença durante sua ceia lhe incomoda”?

“O senhor é que é o dono deste reino”, disse Bela, tremendo.

“Não”, respondeu a Fera, Não há aqui outra senhora além de Bela. Se a aborreço é só dizer uma só palavra e irei embora. Diga, a senhorita me acha muito feio?”

“Sim, eu acho”, disse Bela. “Não sei mentir. Mas acredito que é muito bom.”

“Tem razão”, disse o monstro, “sou feio e acho que não tenho inteligência, apesar não passo de um animal.”

“Não pode ser um animal se acha que não tem inteligência, respondeu Bela. “Um tolo nunca sabe que é tolo.”

“Então coma Bela”, disse a Fera, “tudo que está aqui é seu, não quero que tenha nenhum aborrecimento, pois eu ficaria desolado se você não estivesse contente.”

“O senhor é muito bondoso e atenciosos”, disse Bela. Confesso que seu coração me atinge profundamente. “Quando penso nele o senhor não me parece tão feio.”

“A senhorita está certa”, respondeu a Fera, “Tenho um bom coração, mas apesar disso sou um monstro.”

“Muitos homens são mais monstruosos”, disse Bela, “e gosto mais do senhor com essa aparência que daqueles que, atrás de uma boa aparência de homens, escondem um coração falso, corrompido, cruel.”

“Gostaria de lhe agradecer com um grande elogio”, respondeu a Fera, “mas como sou um estúpido tudo que posso dizer é que fico muito grato.”

Bela ceou com apetite a gostosa refeição que estava a sua frente. Quase não tinha mais medo da Fera, mas levou o maior susto quando esta lhe perguntou de repente: “ Bela, quer ser minha mulher?”

Bela ficou parada, sem resposta por algum tempo. Temia provocar a cólera da Fera recusando-o. Mesmo assim foi franca, respondendo: “Não, Fera.”.

Ouvindo isso o pobre monstro soltou um profundo suspiro, tão triste e tão alto que ressoou por todo castelo. Mas Bela logo se acalmou porque a Fera lhe disse tristemente: “Adeus, Bela”, e saiu da sala, virando-se de vez em quando para olhar para ela mais uma vez.

Novamente sozinha Bela sentiu grande compaixão por aquela pobre Fera: “Que pena que seja tão feio, é tão bom, tão querido.”

Três meses se passaram que Bela chegara àquele palácio, na mais completa tranqüilidade. Todas as noites a Fera a visitava durante a ceia, onde tinham conversas deliciosas. Aos poucos Bela se acostumara com sua feiúra e. longe de temer o momento de sua visita, esperava ansiosa às nove horas, a hora em que a Fera aparecia. Só uma coisa afligia Bela: é que o monstro diariamente, antes de se retirar sempre perguntava se ela queria se casar com ele e parecia profundamente ferido se a resposta era não.

Certo dia Bela falou: “ O senhor está me fazendo sofrer, Fera. Gostaria de poder aceitar seu pedido de casamento, mas sou muito sincera para iludi-lo, afirmando que um dia isso acontecerá. Por enquanto o que posso dizer é que sempre serei sua amiga.”

“Não me resta outra coisa”, respondeu o monstro, “não tenho ilusões a respeito da minha aparência, sei que sou horrível, mas a amo muito e, seja como for, fico muito feliz por permanecer aqui comigo. Prometa que não me deixará!”

Bela ficou perturbada com esse pedido. Soubera através do espelho que seu pai estava doente de tristeza por tê-la perdido e desejava revê-lo.

“Prometo que nunca vou abandoná-lo”, disse Bela, “mas tenho muita vontade de rever meu pai, mesmo que só por algum tempo, e sofreria muito se não me deixasse.”

“Prefiro morrer a fazê-la sofrer”, respondeu a Fera, “Vou enviá-la à casa de seu pai, mas se a senhorita não voltar, sua pobre Fera morrerá de dor.”

“Não”, disse Bela, chorando só em pensar nessa possibilidade, “Meu amor é muito grande para causar a sua morte. Prometo voltar em oito dias. Pelo senhor já estou sabendo que minhas irmãs estão casadas e que meus irmãos partiram para o exército. Meu pai está completamente só, permita que eu passe uma semana com ele.

“Estará em sua casa amanhã cedo”, disse a Fera, “Mas não esqueça da sua promessa. Quando quiser voltar só precisa pôr seu anel sobre uma mesa ao se deitar.”

Ao dizer essas palavras a Fera suspirou como era de seu costume e Bela foi se deitar triste por tê-lo feito sofrer.

Bela acordou na casa do pai, nesse momento entrou uma criada que se assustou ao vê-la e deu um grande grito. O negociante veio correndo ver o que estava acontecendo e quase morreu de alegria ao ver sua querida filha. Pulavam de alegria e se abraçaram por muito tempo. Após o alvoroço do reencontro, Bela percebeu que não trouxera suas roupas e que não tinha com o que se vestir, quando seus olhos se depararam com um grande baú ao lado de sua cama, repleto de lindos vestidos enfeitados com pedras preciosas. Imediatamente Bela mandou, em pensamento, agradecimentos à Fera por suas atenções. Pegou o vestido mais simples e ordenou à criada que guardasse os outros, pois tinha a intenção de dá-los de presente as suas irmãs. Foi só ela dizer isso e o baú desapareceu da sua frente. Seu pai, com sabedoria, alertou que a Fera deu aquele presente para Bela, e que não queria que ela os desse a ninguém e, prontamente o baú com os vestidos voltou para o mesmo lugar.

Enquanto Bela se aprontava para o café da manhã a criada foi avisar suas irmãs de sua chegada. Essas, apesar de casadas com ricos fidalgos estavam infelizes. A mais velha se casara com um belíssimo rapaz, e este amava muito a si mesmo, passava o dia cuidando de sua própria aparência e não tinha olhos para a esposa. A segunda se casara com um homem assaz inteligente, e este usava a inteligência apenas para, com uma língua muito ferina, espicaçar todos que passavam na sua frente, a começar pela própria esposa. As irmãs de Bela quase morreram de amargura ao vê-la mais bela ainda do que antes e vestida como uma princesa, nem conseguiam disfarçar. Bela tentou alegrá-las, mas nada adiantou, ao contrário, piorou, elas quase explodiram de inveja quando Bela lhes contou como era feliz. As duas invejosas assim que se viram a sós começaram a falar de Bela: “Como essa criatura se atreve a ser mais feliz do que nós? Somos mais belas e mais encantadoras!”.
“Irmã”, disse a mais velha, “ tive uma idéia para destruir com a alegria dela. Só temos que conseguir segurar Bela aqui por mais de oito dias. Aquela Fera idiota ficará furiosa por ela ter lhe faltado com a palavra e a devorará”.
“Ótima idéia”, respondeu a outra, “com jeito, lhe fazendo mil agrados vamos atingir o nosso intento!”. Felizes com sua idéia maligna foram ao encontro de Bela e foram tão afetuosas com ela, que esta comovida chorou de felicidade acreditando que as irmãs tinham mudado. Passado os oito dias as irmãs começaram a fazer um teatro, se mostrando profundamente consternadas com a partida de Bela, implorando-lhe que ficasse mais um pouco com elas, e choraram até que Bela prometesse permanecer por mais oito dias. Bela assim o fez para acalmar as irmãs, ao mesmo tempo em que se martirizava pensando na Fera, a quem amava de todo coração, e de quem sentia muita falta. Na décima noite em que passou na casa de seu pai, Bela sonhou que estava no jardim do palácio e deitado na grama, à morte estava a Fera, triste por sua ingratidão. Bela acordou sobressaltada e em prantos com a imagem do sofrimento de sua querida Fera.
“Estarei sendo perversa”, disse ela consigo mesma, “fazer sofrer a Fera que é tão bondosa comigo? Ele não tem culpa por ser tão feio, o mais importante é que tem um coração de ouro! Por que não quis me casar com ele? Seria mais feliz ao lado dele do que minhas irmãs com seus lindos maridos. Não é a inteligência ou beleza de um marido o que faz uma mulher feliz, mas sim seu caráter, sua bondade, sua cumplicidade, e a Fera tem de sobra todas essas boas qualidades. Não agüento fazê-lo infeliz, é ingratidão da minha parte. Eu me condenaria por isso para o resto da minha vida”.
Pensando assim Bela imediatamente se levantou, pôs seu anel sobre a mesa próxima e voltou para a cama. Adormeceu assim que se deitou e, ao acordar pela manhã, viu com grande alegria que estava no palácio da Fera. Vestiu-se rapidamente para reencontrar a Fera, colocando o vestido mais bonito que encontrou só para agradá-lo, e ficou ansiosamente aguardando as dar nove horas da noite. Enfim o relógio começou a dar as badaladas, mas quando acabou a Fera não apareceu.
Bela se assustou, temeu que com seu atraso em retornar tivesse causado a morte da Fera, e saiu em desabalada correria percorrendo todo palácio, procurando por toda parte, gritando pela Fera. Desesperada de repente lembrou-se do seu sonho e correu para o jardim na direção do canal, onde o tinha visto. Encontrou a pobre Fera caída no chão, já inconsciente, e pensou que ele estivesse morto.
Atirou-se em prantos sobre seu corpo, não sentindo mais a menor repulsa pela sua aparência, e abraçando-se nele percebeu que seu coração ainda batia fracamente. Com as mãos pegou água do canal e jogou sobre seu rosto. A Fera abriu os olhos e disse a Bela: “ Você esqueceu sua promessa. A dor de perdê-la deixou-me nesse estado, mas morrerei feliz porque tive o prazer de revê-la mais uma vez”.
“Não querido, você não vai morrer não”, respondeu Bela, Vai viver para se tornar meu esposo. Neste momento lhe concedo minha mão, e juro que pertencerei somente a você. Ai de mim, por muito tempo acreditei que o que sentia por você era só amizade, mas a dor que sinto ao vê-lo assim me faz ver que o amo e que não poderei viver sem a sua presença”.
Mal pronunciara essas palavras, diante dos olhos assustados de Bela, o castelo resplandeceu em luz, surgindo uma explosão de lindíssimos fogos de artifício, com uma música maravilhosa vinda não se sabe de onde. Apesar disso, Bela só conseguia olhar para a Fera, cujo estado a inquietava. Que surpresa ela teve! A Fera desaparecera e tudo que Bela viu foi um príncipe mais belo que o amor a seus pés, agradecendo-lhe por ter desfeito o encantamento. Bela olhou atônita para o príncipe e perguntou onde estava a Fera.

“Está a seus pés”, disse-lhe o príncipe, “a Fera sou eu, ou melhor, era”. “Há muito tempo atrás eu era o poderoso príncipe de um reino distante, e apesar de ter boas qualidades, era mau, grosseiro e impiedoso. Um dia minha fada madrinha, disfarçada de mendiga, bateu à minha porta pedindo alimento e acolhida. Eu mesmo a joguei pra fora a pontapés. Naquele instante ela se deu a conhecer e me condenou a viver sob essa forma, até que meu coração se transformasse pelo sofrimento e pelo amor a uma bela moça, que me amasse e consentisse em se casar comigo. Proibiu-me também de deixar minha inteligência aparecer. Você foi a única pessoa no mundo bondosa o bastante para se deixar tocar pelo meu coração. Nem lhe oferecendo minha coroa posso saldar toda a dívida de gratidão que tenho com você”.
Bela deu a mão ao príncipe e foram juntos para o castelo, e para sua surpresa e alegria ela encontrou no salão o pai e sua família, que a linda dama de seu sonho tinha transportado pra lá.
“Bela”, disse-lhe essa dama, que era uma fada, está na hora de você colher a recompensa por sua boa escolha: você preferiu a virtude à beleza e à inteligência, portanto merece encontrar todas essas qualidades reunidas numa mesma pessoa. Vai se tornar uma grande rainha. Espero que o trono não destrua suas virtudes. “Quanto às senhoritas”, disse a fada para as irmãs de Bela, “serão transportadas cada uma para um castelo onde, convertidas em feras, passarão pela mesma experiência do príncipe até que seus corações perversos e invejosos se convertam em bondade, ou até que morram de velhice, ou até que alguém, horrorizado com a aparência de vocês, as mate”.E assim foi feito.
Depois a fada moveu sua varinha, transportando todos que ali estavam para o reino do príncipe, onde seus súditos o receberam com grande alegria. Ele se casou com Bela, que viveu com ele por muitos e muitos anos, numa felicidade tão perfeita quanto a que é possível aos mortais.

terça-feira, 10 de julho de 2007

O GATO DE BOTAS

Havia há muito tempo, em um país distante, um moleiro chamado Augusto, que tinha três filhos, o primeiro se chamava Daniel, o segundo Tiago e o terceiro Constantino. O moleiro possuía três bens: um moinho, um asno e um gato. Um dia ele sentiu que a morte se aproximava, já que estava muito velho e doente, e resolveu fazer um testamento, por meio do qual deixou a Daniel, o filho mais velho, o moinho; para Tiago, ele deixou o asno, e para o mais novo, Constantino, restou apenas deixar como herança o gato.
Desesperado com sua sorte, Constantino disse: ”Só me resta matar e devorar esse gato inútil, fazer alguma roupa com seu couro, e depois ir procurar algum modo de me sustentar”.
O gato, é claro, ficou bastante preocupado com essa conversa, e disse: “Meu amo, não me mate, a carne de gato não é boa para humanos comerem, e, além disso, eu sou muito mais útil vivo – basta me dar um saco e mandar fazer para mim um par de botas para que eu possa caminhar livremente no mato sem medo de me ferir, e daí verá que com minha ajuda acabará rico”.
Constantino se lembrou então que já vira o gato apanhar ratos e camundongos com auxílio de muita esperteza e malandragem, e resolveu que não custava nada experimentar. Ele não ganharia praticamente coisa nenhuma com a morte do gato, e as botas sairiam quase de graça.
Quando recebeu o que havia pedido, o gato calçou com orgulho suas botas novas. Depois, meteu um monte de farelo e uma porção de alfaces no saco e o pendurou nas costas. Foi então para um bosque onde sabia que havia muitos coelhos. Quando chegou, se deitou no chão se fingindo de morto, e ficou esperando que algum coelho entrasse no saco atraído pelo farelo e alfaces.
Logo após ter se deitado, um jovem coelho entrou no saco, e o gato puxou os cordões para prendê-lo, o agarrou e matou imediatamente. Orgulhoso de sua proeza foi até o castelo do rei e pediu para falar com ele. O rei o recebeu, e o gato, após fazer uma profunda reverência, disse:
“Trago um coelho da floresta que o senhor Marquês de Carabá (foi o primeiro nome que lhe veio à cabeça) me encarregou de vos oferecer como presente”
“Agradeço o presente que seu amo me oferece, e diga-lhe que fico muito grato”, disse o rei.
No dia seguinte, o gato foi de novo para o mato, e repetiu tudo de novo, se fingindo de morto com o saco aberto e cheio de trigo e alface. Só que desta vez foram duas perdizes que se enfiaram dentro do saco. O gato as matou, e levou para o rei, falando novamente em nome do Marquês de Carabá.

Isso durou uns três meses, nos quais, quase diariamente, o gato levava caças ao rei em nome de seu amo. Até que um dia o gato ficou sabendo que o rei pretendia na manhã seguinte sair a passeio, com sua linda filha, pela margem do rio. O gato disse então a seu amo “Se quiser se dar bem siga agora o meu conselho, e sua fortuna está feita; tudo que precisa fazer é ir tomar banho no rio no lugar que eu lhe mostrarei. Relaxe e deixe que eu tome conta de todo o resto”.
O Marquês de Carabá fez tudo que o gato o aconselhava, mesmo não fazendo a menor idéia do que ia acontecer. Enquanto se banhava no rio, o rei passou por ali, e o gato, que estava preparado para esse momento, começou a gritar com toda a força que podia: “Socorro! Socorro! Meu senhor, o Marquês de Carabá, está se afogando!”
Gritou tão alto que acabou chamando a atenção do rei, que pôs a cabeça para fora da carruagem e reconheceu o gato que tantas vezes lhe levara caça como presente em nome do Marquês de Carabá.
O rei então ordenou a seus guardas que fossem ajudar, e rapidamente o pobre Marquês de Carabá foi salvo da morte, segundo acreditava o rei.
Enquanto isso o gato foi até o rei e disse que, enquanto o seu amo tomava banho, ladrões haviam aparecido e roubado todo o dinheiro e todas as roupas, e o gato ainda disse que por mais que gritasse com todas as suas forças: “Ladrões! Alguém ajude!”, ninguém apareceu para ajudar, até que por sorte o rei passasse por ali para salvar seu amo.
Na verdade, o gato havia escondido as roupas debaixo de uma pedra, e dinheiro não havia nenhum.
Assim que o Marquês de Carabá estava salvo, o rei ordenou a seus serviçais que fossem buscar o mais belo traje que fosse encontrado em seu guarda-roupa para cobrir a nudez do Marquês. O rei o cumprimentou, e as belas roupas que o Marquês estava vestindo realçavam sua beleza natural e faziam com que ninguém fosse capaz de imaginar que não fosse nobre. A filha do rei o achou muito atraente, e mal o rapaz lhe dirigiu um olhar mais intenso e ela já ficou loucamente apaixonada.
O rei quis que o Marquês fosse passear com ele e com sua filha. O gato ficou encantado ao ver que tudo acontecia conforme o seu plano, e conforme já havia planejado, seguiu na frente, e encontrando alguns camponeses ceifando em um prado, disse a eles “Minha boa gente que está aqui ceifando este campo, se quiserem continuar vivos digam ao rei quando passar por aqui que o prado que estão ceifando pertence ao senhor Marquês de Carabá. Se não disserem isso, serão picados em pedacinhos como recheio de lingüiça”.
Logo chegou o rei e de fato teve curiosidade de perguntar aos camponeses de quem era aquele campo que ceifavam. “Pertence ao senhor Marquês de Carabá” responderam todos, porque ficaram com muito medo das ameaças do gato e não tinham o menor desejo de morrer.
“É um belo patrimônio, esse que o senhor tem”, disse o rei ao Marquês de Carabá.
“Saiba Vossa Majestade” respondeu o Marquês, “que esse prado produz uma grande colheita todos os anos”.
O gato continuou indo à frente, e logo encontrou alguns camponeses colhendo, e disse a eles “Minha boa gente que está aqui colhendo, se quiserem continuar vivos digam ao rei quando passar por aqui que todo este trigo que estão pertence ao senhor Marquês de Carabá. Se não disserem isso, serão picados em pedacinhos como recheio de lingüiça”.
Logo chegou o rei e de fato teve curiosidade de perguntar aos camponeses de quem era aquele campo que ceifavam. “Pertence ao senhor Marquês de Carabá” responderam todos, já que estavam apavorados com as ameaças do gato. Novamente, o rei felicitou o Marquês pela sua imensa riqueza.
O gato, que ia sempre adiante da carruagem, dizia sempre as mesmas coisas, ameaçando de morte todos os camponeses que não dissessem que as terras em que estavam trabalhando pertenciam ao Marquês de Carabá. E o rei foi se tornando cada vez mais espantado com as riquezas gigantescas do Marquês, que a essa altura do passeio ele já calculava ser muito maior do que a sua.
O gato então chegou a um belo castelo que pertencia a um ogro. O ogro era riquíssimo, pois todas aquelas propriedades pelas quais o rei havia passado e que acreditava serem propriedades do Marquês na verdade pertenciam ao ogro. O gato pediu uma audiência alegando que desejava conhecer um senhor tão rico e poderoso. Na verdade o gato já havia se informado sobre o ogro e tinha um plano em mente.
O ogro o recebeu com toda a cortesia e o convidou a sentar.
“Ouvi dizer”, disse o gato, “que o senhor tem o poder de se transformar em qualquer tipo de animal, que poderia se quisesse, por exemplo, se transformar em um leão ou em um elefante”.
“É a mais pura verdade”, respondeu bruscamente o ogro, “e para provar isso agora mesmo, vou me transformar em leão, como você sugeriu”.
No instante em que terminou de falar, o ogro se transformou em um leão. O gato ficou apavorado e foi se esconder no telhado, no qual subiu com grande dificuldade por causa das botas.
Pouco tempo depois, o ogro voltou à sua forma original, e o gato desceu e confessou estar muito impressionado com o poder do ogro.
“Ouvi também dizerem”, disse o gato, “Que o senhor é capaz de se transformar em animais muito pequenos, com um corpo muito menor que o seu original, com um camundongo, por exemplo. Confesso que nisso não acredito, já que deve ser impossível que o seu poder seja tanto que seja capaz de modificar seu corpo dessa maneira”.
“Isso não é nada impossível para mim”, disse o ogro, “veja”, e se transformou em um pequeno camundongo em um instante. O gato aproveitou esse momento para pular sobre ele e mata-lo instantaneamente.

Enquanto isso o rei viu o belo castelo do ogro e decidiu conhecer o dono de tão magnífica propriedade. O gato ouviu o ruído da carruagem passando sobre a ponte levadiça e correu para frente do castelo para receber o rei. Assim que o rei chegou, o gato disse:
“Vossa Majestade é bem-vinda ao castelo do Marquês de Carabá”
“Senhor Marquês, escondeu de mim que este castelo também é seu? Creio que queria me surpreender! Pois saiba que conseguiu, jamais vi castelo com pátio tão belo nem construções tão magníficas. Gostaria de ver como ele é por dentro, se o senhor me permitir”.
O Marquês deu a mão à princesa e os dois seguiram o rei subindo a escadaria do palácio e entrando em um grande salão, onde encontraram servida uma deliciosa refeição, que o ogro havia mandado servir para um grupo de convidados que, quando souberam que o rei estava lá, não ousaram interromper nem quiseram questionar o que estava acontecendo no castelo.

Encantado com as riquezas do Marquês de Carabá, e vendo que sua filha estava apaixonada, o rei resolveu unir o útil ao agradável e disse “Se quiser ser meu genro, só precisa dizer sim”.
O Marquês disse “sim!” e nesse mesmo dia ocorreu o casamento.
O gato passou a ser um grande senhor e passou a só caçar ratos e camundongos por esporte.








segunda-feira, 9 de julho de 2007

CHAPEUZINHO VERMELHO

Era uma vez uma linda menininha. Todos os que a viam ficavam encantados por ela. Uma das pessoas que mais a amavam era a sua avó, que sempre lhe dava presentes. Um dia a menininha ganhou da avó um capuz vermelho de veludo. Ela gostou tanto do presente que o vestia quase o tempo todo, e por isso acabou sendo chamada de Chapeuzinho Vermelho
Certo dia, a mãe da menina lhe disse: “Chapeuzinho Vermelho, aqui está uma cesta com bolinhos e uma garrafa de vinho. Leve isso para sua avó. Ela está se sentindo doente e fraca, e esses alimentos farão bem a ela. Saia agora, pois logo será meio-dia e o sol ficará quente demais, e na floresta siga pelo caminho sem entrar na mata. Se não fizer isso pode tropeçar em alguma pedra e deixar a garrafa cair e se partir, e deixar os bolinhos caírem e se sujarem, estragando toda a comida que estou enviando para sua avó”.
“Farei tudo certo”, disse Chapeuzinho Vermelho para sua mãe.
A avó de Chapeuzinho Vermelho morava a cerca de uma hora de caminhada da aldeia. Ao entrar na floresta, Chapeuzinho Vermelho deu de cara com o lobo. Ela não sabia que lobos eram animais perigosos, por isso não teve nenhum medo.

“Bom dia, menininha”, disse o lobo.
“Bom dia, senhor lobo”, respondeu Chapeuzinho Vermelho.
“Como você se chama, linda menina?” perguntou o lobo.
“Obrigada, me chamo Chapeuzinho Vermelho” ela disse.
“Chapeuzinho Vermelho, para onde você está indo?”
“Vou visitar minha vovó”
“E o que você carrega aí?”
“Uns bolinhos e vinho. Minha avó está doente e fraca, a comida vai fazer com que se sinta melhor”.

“E onde fica a casa da sua avó?”

“Entrando por este caminho na mata, fica há uns vinte minutos e distância, próximo a uns seis carvalhos dos grandes, com umas aveleiras crescendo em volta”.
“Sei onde é”

Na verdade o lobo estava era pensando: ”Hoje mato dois coelhos com uma cajadada só. A menina e a velha vão terminar no meu bucho, só preciso ser um pouco esperto”.

O lobo disse a Chapeuzinho Vermelho que faria companhia a ela e foi caminhando a seu lado por algum tempo. Então disse: “Chapeuzinho, dê uma olhada, há lindas e perfumadas flores em todo lugar que se olhe, pare de andar e preste um pouco de atenção nelas! Além das flores, pássaros estão cantando e toda a beleza da natureza está aqui, esperando apenas que você desfrute dela. Não seja tão séria, há tempo para levar comida para a sua avozinha, aproveite o bosque, tudo é muito alegre e interessante por aqui, relaxe um pouco”.

Chapeuzinho Vermelho então pensou que não faria mal fazer o que o lobo dizia. Olhou à sua volta e ficou maravilhada com a beleza do bosque. Os raios de sol passavam por entre as folhas das árvores causando efeitos coloridos indescritíveis. Flores de todas as cores se espalhavam formando tapetes cromáticos tão maravilhosos que Chapeuzinho Vermelho ficou absolutamente fascinada. Impressionada com a beleza das flores, ela pensou: “Minha vovó vai ficar muito contente se eu levar um buquê com algumas dessas flores maravilhosas. Ela é capaz até de melhorar. Ainda tenho tempo, é muito cedo e não tenho medo do sol do meio-dia. Há tempo de sobra para colher algumas flores, levar os bolinhos, o vinho e as flores para minha vovó e ainda voltar para casa sem nenhum problema e ainda deixando a vovó mais feliz e quem sabe menos doente com todas essas flores maravilhosas”.
O lobo disse a Chapeuzinho Vermelho que faria companhia a ela e foi caminhando a seu lado por algum tempo. Então disse: “Chapeuzinho, dê uma olhada, há lindas e perfumadas flores em todo lugar que se olhe, pare de andar e preste um pouco de atenção nelas! Além das flores, pássaros estão cantando e toda a beleza da natureza está aqui, esperando apenas que você desfrute dela. Não seja tão séria, há tempo para levar comida para a sua avozinha, aproveite o bosque, tudo é muito alegre e interessante por aqui, relaxe um pouco”.
Chapeuzinho Vermelho então pensou que não faria mal fazer o que o lobo dizia. Olhou à sua volta e ficou maravilhada com a beleza do bosque. Os raios de sol passavam por entre as folhas das árvores causando efeitos coloridos indescritíveis. Flores de todas as cores se espalhavam formando tapetes cromáticos tão maravilhosos que Chapeuzinho Vermelho ficou absolutamente fascinada. Impressionada com a beleza das flores, ela pensou: “Minha vovó vai ficar muito contente se eu levar um buquê com algumas dessas flores maravilhosas. Ela é capaz até de melhorar. Ainda tenho tempo, é muito cedo e não tenho medo do sol do meio-dia. Há tempo de sobra para colher algumas flores, levar os bolinhos, o vinho e as flores para minha vovó e ainda voltar para casa sem nenhum problema e ainda deixando a vovó mais feliz e quem sabe menos doente com todas essas flores maravilhosas”.

Chapeuzinho Vermelho foi então colher flores. Foi apanhando as mais bonitas que via, e assim foi se afastando cada vez mais da trilha e entrando na mata.
Enquanto isso, o lobo aproveitou para correr até a casa da avó de Chapeuzinho Vermelho. Quando chegou, bateu na porta.
“Quem é”
“Sou eu, vovó, Chapeuzinho Vermelho, sua netinha querida. Por favor, abra a porta”, disse o lobo, imitando a voz de Chapeuzinho Vermelho
“Levante o ferrolho e entre, não posso levantar da cama”.
O lobo levantou o ferrolho e abriu a porta. Atacou a avó, matando-a na hora. Então apanhou uma garrafa de vinho vazia que tinha na casa e encheu com o sangue da avó. Em seguida devorou a avó até não sobrar nada, vestiu as roupas dela e deitou na cama.
Enquanto ocorriam essas coisas terríveis Chapeuzinho Vermelho corria pra lá e pra cá catando flores. Quando já havia colhido um monte, lembrou que devia se apressar ou se atrasaria. Voltou para a trilha e em pouco tempo chegou ao seu destino. Ficou um pouco surpresa ao ver que a porta estava aberta, e ao entrar sentiu um calafrio de terror, intuindo que coisas terríveis haviam ocorrido naquele local há muito pouco tempo.

Chapeuzinho Vermelho entrou na casa. O lobo estava na cama, vestido com as roupas da vovó e apenas com os olhos de fora. Embora achasse que havia algo errado, Chapeuzinho Vermelho acabou acreditando que era a sua avó que estava na cama.
“Bom dia, vovó, trousse bolinhos e vinho para a senhora”.
“Bom dia, minha netinha. Muito obrigada pela comida. Já tenho bastante vinho, mas uma garrafa a mais não fará mal. Aliás, deixei uma garrafa ótima em cima da mesa. Experimente um pouquinho!”.
Era a garrafa com o sangue da avó! Chapeuzinho Vermelho foi até a mesa, mas quando abriu a garrafa sentiu o cheiro de sangue. Com isso ela percebeu tudo que havia ocorrido. Encheu um copo com o sangue da avó e fingiu tomar. Sem que o lobo percebesse, ela conseguiu pegar uma faca que havia em cima da mesa e esconder nas roupas.

“Está muito frio, minha netinha, venha para a cama se aquecer um pouquinho”.

Chapeuzinho vermelho foi para a cama, tomando cuidado para o lobo não perceber a faca escondida.
“Vovó, que orelhas grandes você tem!”, Chapeuzinho Vermelho disse para o lobo.
“É para melhor te escutar!”
“E que pernas mais compridas você tem!”
“É para poder correr melhor, netinha!”
“E olhos grandes você tem!”
“São para poder enxergar bem!”
“Que braços mais compridos você tem!”
“São para melhor te agarrar!”
“E que dentes grandes você tem!”
“SÃO PARA TE COMER!”
O lobo saltou sobre Chapeuzinho Vermelho, mas ela já esperava por isso e conseguiu ser mais rápida, cravando a faca no coração do lobo, que caiu morto.
Todos lamentaram a morte da vovozinha, que era muito estimada pelos habitantes da aldeia, mas ao mesmo tempo se felicitaram com a esperteza de Chapeuzinho Vermelho, que conseguiu matar o lobo antes que ele a matasse. Logo após matar o lobo, Chapeuzinho Vermelho o esfolou e guardou a pele como lembrança de que não se deve confiar em alguém só porque parece ser gentil e usa palavras delicadas, pois são os atos e não as palavras que nos dizem o que devemos esperar dos outros.